No último final de semana, entre os dias 21 e 22 de abril, aconteceu a vigésima quinta edição do Fórum Indígena da Aldeia Te'ýikue, em Caarapó, Mato Grosso do Sul. Cerca de 800 pessoas passaram pelo evento que contou com apresentações de música, manifestações culturais tradicionais, desfile de alunos, sorteios de brindes e encaminhamentos de propostas, com o objetivo de melhorar a vida da comunidade indígena Guarani e Kaiowá do território.
Segundo o Diretor da Escola Ñandejara, Lidio Cavanha Ramires, o Fórum Indígena da Aldeia Te'ýikue acontece desde 1997, quando, por iniciativa da Secretaria Municipal de Educação e de Professores da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), o evento começou a ser promovido na aldeia. Hoje em dia, o evento é pensado e executado pela Educação Escolar Indigena e mais de 130 pessoas estão envolvidas diretamente com o Fórum.
O Diretor Lídio contou que até 2016 muitos empresários ajudavam, mas que após o episódio conhecido como ‘massacre de Caarapó” muitas pessoas passaram a ter um comportamento de desaprovação em relação a toda comunidade, rejeitando ajudar o fórum. Neste episódio, Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza foi assassinado com dois tiros e outros seis indígenas, inclusive uma criança de 12 anos, foram atingidos por disparos e ficaram gravemente feridos.
Hoje em dia, o evento acontece a partir da arrecadação interna de professores que contribuem com uma quantia em dinheiro por cinco meses antes do Fórum, além disso, o Município de Caarapó, através da Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Cultura, sempre apoia as iniciativas da Educação Escolar Indígena. Outro parceiro do Fórum é o mandato do Deputado Estadual Pedro Kemp (PT) que tem compromisso firmado com a comunidade indigena da Aldeia Te'ýikue.
Nestes 25 anos de existência, o evento só não pode acontecer nos dois anos de pandemia, em razão de medidas sanitárias. O Diretor Lídio e outros professores da Educação Escolar Indígena afirmam que além da estrutura ter melhorado muito, o que mais mudou foi a participação da comunidade indigena. A cada ano, mais pessoas passaram a entender a importância do Fórum, se envolveram com a iniciativa e marcaram presença com suas famílias.
Juventude
A ampla participação dos jovens indígenas no evento chama a atenção de quem pôde comparecer. Envolvidos com as rezas, rituais e apresentações culturais, os jovens fazem toda a diferença no Fórum, inclusive, o atual Cacique da Aldeia Te'ýikue é Jorginho Soares Martins que aos 28 anos, lidera a comunidade que hoje tem cerca de 6 mil moradores, o Cacique Jorginho é o maior exemplo para a juventude e também para as crianças da aldeia.
Propostas
Inicialmente, o Fórum Indígena da Aldeia Te'ýikue tinha como objetivo avançar nos debates e nas conquistas relacionados à educação, mas com o passar dos anos, o espaço se tornou também um importante momento para toda comunidade, onde também foi possível discutir sobre Saúde, Segurança
Meio Ambiente, gestão territorial, Assistência Social, Programas Sociais, Governo e organizações não-governamentais.
Em 2023, as áreas com maior quantidade de propostas e solicitações foi Saúde e Educação. A necessidade de um Pediatra na Aldeia, por exemplo, foi um tema amplamente debatido entre as mães da aldeia, até porque, hoje, muitas crianças vivem na Te’yikue. Outra necessidade é o aumento da cota de gasolina para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), pois as distâncias para atendimento da comunidade são muito grandes e isso demanda maior oferta de combustível para as equipes volantes.
Na educação, a demanda que chamou a atenção foi em relação ao transporte universitário, para os acadêmicos indígenas da Aldeia Te'ýikue se deslocarem até a cidade de Dourados, onde fica a sede da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e o polo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)
O XXV Fórum Indígena foi um sucesso e certamente, tem força para entrar no calendário oficial de eventos da comunidade Indígena de Mato Grosso do Sul, como um exemplo de auto organização e de valorização da cultura tradicional Guarani e Kaiowá.