O Brasil só conseguiu de fato inflamar o público no Maracanã no segundo tempo da partida contra o Chile, com as entradas de dois velhos conhecidos da torcida: Lucas Paquetá e, principalmente, Luiz Henrique. A Seleção cresceu com a mudança, e o placar, que até então era estreito, tornou-se mais elástico. No entanto, além da atuação eletrizante dos reservas, outros pontos positivos merecem destaque na convincente vitória por 3 a 0.
Diante de um adversário frágil — lanterna das Eliminatórias e em processo de renovação —, o time comandado por Carlo Ancelotti manteve controle absoluto do jogo. A equipe brasileira exibiu uma dominância incontestável, com 22 finalizações contra apenas três do Chile e posse de bola beirando os 70% durante longos períodos.
Para romper o bloqueio defensivo chileno, que operava com uma linha de cinco jogadores, o Brasil adotou uma estratégia ofensiva. Wesley atuava quase como um ponta direita, formando um quinteto ofensivo ao se juntar aos quatro atacantes titulares.
O quarteto formado por Estêvão, Raphinha, João Pedro e Gabriel Martinelli se movimentava constantemente, com trocas de posição inteligentes para desorganizar a marcação e abrir espaços nas costas da defesa rival. Foi assim, por exemplo, que surgiu uma grande chance aos sete minutos: após troca de passes paciente, João Pedro arrastou a marcação e abriu um corredor para Raphinha avançar em velocidade. Apesar da construção eficiente, a finalização — nesse e em outros momentos — deixou a desejar.
Embora mais uma vez o Brasil não tenha contado com o gol de um centroavante “clássico”, João Pedro deixou uma impressão muito positiva. Com passes de primeira e movimentação inteligente, o camisa 9 do Chelsea clarificou jogadas e cumpriu um papel tático crucial. Teve participação direta no gol de abertura: com um toque rápido, ele completou uma triangulação precisa com Martinelli e Douglas Luiz, que culminou no primeiro gol de Estêvão com a amarelinha.
Mesmo em vantagem, o Brasil seguiu dominante e criou oportunidades para ampliar. Aos poucos, porém, o ritmo caiu, e a equipe parecia satisfeita com o resultado. Foi então que Ancelotti promoveu as mudanças decisivas: aos 20 minutos, Luiz Henrique e Andrey Santos entraram; aos 26, foi a vez de Paquetá e Kaio Jorge.
Com fôlego renovado e maior criatividade no meio, a Seleção aumentou a intensidade, intensificou a pressão na saída de bola chilena, fez 3 a 0 e poderia ter marcado ainda mais.
Apesar de ser necessário ponderar a fragilidade do Chile, é inegável comemorar o fato de o Brasil alcançar o terceiro jogo seguido sem sofrer gols — um marco ainda não alcançado nesta campanha eliminatória.
Isso não significa, contudo, que não haja ajustes defensivos a fazer. Casemiro e Bruno Guimarães precisaram cobrir grandes espaços no meio-campo, e fica claro que rivais com maior poder ofensivo exigirão um reforço na marcação nessa região.
Ainda há muito para evoluir, e o tempo até a Copa do Mundo é curto. Mas os sinais iniciais sob o comando de Ancelotti — especialmente a solidez defensiva e a capacidade de alterar jogos com o banco — são promissores e dão motivo para otimismo.