O sexo oral sem proteção pode aumentar os riscos de câncer de garganta devido ao possível contato com o vírus HPV. Embora os tumores não sejam causados pela prática em si, o vírus HPV tem a capacidade de infectar a mucosa oral, genital e anal de homens e mulheres. Estima-se que metade dos casos de tumores de orofaringe entre 2030 e 2040 serão causados pelo HPV, enquanto os outros 50% estão relacionados ao tabagismo. Aqueles que têm múltiplos parceiros sexuais devem ter cuidado redobrado, pois estudos indicam que o sexo oral com mais de seis pessoas ao longo da vida aumenta em 8,5 vezes o risco de desenvolver a neoplasia de orofaringe em comparação com aqueles que não praticam sexo oral.
No entanto, isso não significa que seja necessário abandonar completamente essa prática sexual. A oncologista Letícia Martins, da Oncoclínicas Rio de Janeiro e do Hospital Marcos Moraes, destaca que é possível combater a infecção por HPV por meio de duas medidas simples: o uso de preservativos e a imunização. Além disso, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool também são medidas úteis. Embora a vacinação contra o HPV para maiores de 14 anos não esteja disponível no SUS, é aconselhável.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se que haverá 15.100 casos de câncer de cavidade oral e orofaringe a cada ano no período de 2023 a 2025, com um risco estimado de 6,99 por 100 mil habitantes. Essa incidência tem aumentado no país, assim como em outros países desenvolvidos.
Estima-se que cerca de 85% da população entre em contato com o vírus HPV em algum momento da vida. No entanto, isso não significa necessariamente que o câncer se desenvolverá. A maioria das pessoas consegue eliminar o vírus através do sistema imunológico após o contato. No entanto, em alguns casos, o vírus não é eliminado e uma infecção crônica se desenvolve, podendo persistir por muitos anos sem causar sintomas, mas ainda sendo transmissível para outras pessoas. Além do sexo oral, o vírus HPV também pode ser transmitido por meio de relações sexuais vaginais ou anais, causando outros tipos de câncer, como câncer de colo do útero, vagina, vulva, pênis e ânus.
Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) analisou dados de 15.391 pacientes do Registro de Câncer de Base Populacional do município de São Paulo (RCBP-SP) entre 1997 e 2013. O estudo mostrou que o risco de câncer de boca e orofaringe, principalmente associado ao Papilomavírus Humano (HPV), aumentou entre homens e mulheres jovens com idade até 39 anos. As estruturas afetadas pelo HPV nesses casos são a base da língua, o palato mole, as amígdalas e as paredes laterais e posteriores da faringe, sendo a base da língua e as amígdalas os locais mais comumente afetados pela doença relacionada ao HPV.