No domingo, escrevi sobre um curso que ensina a morrer. Aproveito para abordar outro tema instigante: as experiências de quase morte, que englobam o conjunto de sensações que as pessoas vivenciam quando se encontram nesta situação limite, antes de serem reanimadas. O psiquiatra Bruce Greyson, professor emérito da Universidade de Virgínia, tem cinco décadas de clínica e coleciona relatos que foram reunidos no recém-lançado “After: a doctor explores what near-death experiences reveal about life and beyond” (“Depois: um médico explora o que as experiências de quase morte revelam sobre a vida e além”).
O especialista diz que não se convencia quando os pacientes afirmavam que se sentiam como se tivessem deixado seus corpos. No entanto, começou a identificar um padrão que se repetia nas histórias. Acabou entrando de cabeça na pesquisa do assunto e fundou uma associação internacional. Nas entrevistas que deu para o lançamento, enfatizou que 5% da população enfrentam a quase morte: “como cientista, era minha obrigação estudar o fenômeno. E aqui estou eu, 50 anos depois, ainda tentando entender o que ocorre”.
As experiências não são todas iguais, há nuances entre elas, mas Greyson identificou as características mais comuns que se repetem:
1) As pessoas chegam a uma esfera não terrena, sobrenatural (ou celeste, como alguns descrevem), que não é o mundo físico que conhecemos. Quase todos têm dificuldade em explicar o que é esse espaço transcendental. Há quem diga que se assemelha a entrar num túnel, ou chegar num jardim, mas o principal é a sensação de se sentir confortável, acolhido.
2) O sentimento preponderante é de paz e bem-estar, que vai de encontro ao medo e à dor que normalmente associamos ao fim. “Sabemos que, quando falta oxigênio, ficamos confusos, agitados, com medo, mas é o oposto que acontece na experiência de quase morte”, comentou o psiquiatra. Ele acrescenta que, quando há uma referência a “ver uma luz”, não se trata de algo fluorescente ou do sol, e sim de uma "radiação" que viria do acolhimento.
3) Encontrar entes queridos já mortos é outro ponto em comum, mesmo que seja apenas a forte sensação da presença do outro – e não uma comunicação que envolva conversar.
4) Ao voltar, essas pessoas se tornam desprendidas em relação ao mundo material. Símbolos de status como fama e poder perdem terreno para compaixão e altruísmo. Um estudo mostra que sobreviventes de ataques cardíacos têm mais empatia e interesse no significado e propósito da vida.
5) O temor da morte diminui para os enfrentam a experiência, o que pode se tornar libertador. “Quando você perde o medo de morrer, também ganha coragem para viver todo o seu potencial”, diz Greyson.
Em seu site, é possível assistir a diversas palestras do médico, com legendas em inglês.