EL PAÍS ouviu especialistas que analisam os caminhos desenhados pelos candidatos à prefeitura para encarar os efeitos econômicos e sociais gerados pela covid-19
Nenhuma cidade do Brasil foi tão atingida pela pandemia do novo coronavírus quanto São Paulo. A capital paulista registra números nacionais recordes em termos de óbitos ―oficialmente 14.304, segundo a prefeitura― quanto em casos confirmados, que já superam os 400.000. Mas a covid-19 não deixa efeitos apenas para a saúde do paulistano, mas também para a economia. O vírus obrigou a decretação da quarentena, trouxe restrições ao funcionamento de empresas e a adoção do distanciamento social, que geraram queda na arrecadação e desemprego. No município, de acordo com o IBGE, há cerca de 937.000 pessoas desocupadas ― o equivalente a 13,2% da população economicamente ativa, índice superior à média nacional de 12,2%. São Paulo enfrenta, portanto, desafios imensos nessas áreas para 2021, ainda mais levando em conta o fim iminente do pagamento do auxílio emergencial do governo federal, em dezembro. Diante desse quadro nada animador, quais são as propostas dos candidatos à prefeitura para mudar esse cenário? O EL PAÍS preparou duas matérias―uma produzida com base nos planos de governo de Bruno Covas (PSDB) e a outra com os de Guilherme Boulos (PSOL)― que ouviram especialistas para analisar projetos, tendências e equipes com os quais eles pretendem alterar o panorama paulistano nesses segmentos. E as linhas defendidas pelas candidaturas se mostraram bastante diferentes.
Com o crescimento da candidatura no segundo turno em São Paulo, aspectos menos comentados do plano de governo de Guilherme Boulos (PSOL) como o detalhamento de fontes de financiamento para novos gastos e a reforma da Previdência municipal ganharam a atenção da mídia, eleitores e especialistas em contas públicas nessa reta final das eleições. Na semana passada, em sabatina no jornal O Estado de S. Paulo, ele recebeu fortes críticas ao dizer que a Previdência do serviço público é deficitária porque não se faz concurso. Para equilibrá-la, sugeriu mais contribuição, ou seja, novas contratações pelo Estado. “Então você tem mais gente se aposentando, virando inativo para receber na previdência e, como não se faz concurso, você tem menos gente contribuindo para a previdência pública”, disse o candidato. Após a repercussão negativa, Boulos gravou um vídeo para esclarecer que não defende o equilíbrio da previdência por meio de novas contratações e que a maneira com que se expressou “foi tirada do contexto da pergunta”.
Os efeitos da pandemia do novo coronavírus foram sentidos em praticamente todas as esferas da vida cotidiana, mas tiveram um impacto especialmente nocivo em duas áreas: a Saúde e a Economia. Pela primeira, a capital registra, até a quinta-feira (26), o saldo trágico de 400.716 casos confirmados de covid-19 e 14.304 óbitos causados pela doença, de acordo com a prefeitura― números recordes entre os municípios brasileiros. Mas o vírus também fez sentir seus efeitos no bolso. A cidade de São Paulo tem atualmente cerca de 937.000 pessoas desocupadas, ou 13,2% da população economicamente ativa, índice menor do que no mesmo período de 2019 (14,3%), segundo dados do IBGE. Mesmo assim a taxa é superior à média nacional (12,2%). Caso se reeleja, Bruno Covas (PSDB) e seus secretários Edson Aparecido dos Santos (Saúde), Philippe Duchateau (Fazenda) e a secretária Aline Cardoso (Desenvolvimento Econômico e Trabalho), terão que lidar com uma situação delicada em um momento no qual a sombra de uma segunda onda se avizinha antes mesmos da primeira ter terminado.
Em 2021, no momento em que o auxílio emergencial ficar para trás (tendo em vista que as últimas parcelas dos repasses federal e municipal terminam em dezembro e não há previsão no plano de Governo de Covas de ampliar o benefício) uma eventual gestão tucana irá focar na economia verde e criativa (que engloba gastronomia, lazer, entretenimento e inclusão social) para reativar a economia de São Paulo. Estas áreas não exigem grandes investimentos públicos ou obras, inviáveis neste momento de pandemia. “Pretendemos que o motor verde seja impulsionador da retomada econômica do pós-pandemia”, diz o plano do tucano. O sucesso dessa iniciativa vai depender do andamento da crise sanitária: até o momento Covas afirma que não existe uma segunda onda em São Paulo (apesar do aumento no número de internações nas redes pública e privada). Em função disso, o tucano diz não haver a a necessidade de novas restrições, tais como o fechamento do comércio.