Pela primeira vez na história, as crianças negras (40,2%) são maioria nas creches brasileiras, superando as brancas (38,3%). Os dados do Censo Escolar 2024, divulgados pelo MEC, mostram um avanço, mas especialistas alertam: esse número ainda é insuficiente diante da exclusão secular imposta à população preta neste país.
Nas creches públicas, onde estão 66% das crianças, o salto foi maior: a presença de crianças negras subiu de 38% para 45%. Um sinal de que políticas de acesso estão, mesmo que timidamente, começando a reparar séculos de negligência. Mas Mariana Luz, diretora da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, lembra: "Essa conquista é importante, mas não podemos nos enganar. O Brasil ainda nega creche a milhares de crianças pretas e pobres todos os dias".
Enquanto o Plano Nacional de Educação estabelece a meta de 50% das crianças em creches, o país patina nos 38,7%. E na pré-escola, a queda de 0,6% no número de matrículas atinge justamente os mais vulneráveis. "São as crianças negras e periféricas as que mais precisam da escola como espaço de proteção e desenvolvimento, mas são as primeiras a serem expulsas do sistema", denuncia Mariana.
A educação infantil é fase crucial: até os 6 anos, 90% do cérebro se forma. Crianças que frequentam creches têm três vezes mais chances de sucesso escolar e profissional. "Negar esse direito é condenar gerações inteiras à perpetuação da pobreza", reforça a especialista.
O Brasil precisa urgentemente de:
✔ Busca ativa para matricular toda criança negra e pobre – não basta abrir vagas, é preciso ir atrás de quem foi invisibilizado;
✔ Investimento real em creches públicas de qualidade, com infraestrutura e professores valorizados;
✔ Enfrentamento ao racismo estrutural que ainda mantém escolas desiguais.
"Não celebramos migalhas. Queremos todas as crianças pretas na escola, aprendendo e sonhando sem limites. Só assim quebraremos o ciclo de exclusão que dura 500 anos", conclui Mariana.