A carne de ovinos (ovelhas, carneiros e cordeiros) ainda é pouco consumida no país se comparada às outras proteínas. De acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), o consumo anual é de 400 g por habitante enquanto a média da carne de frango é de 44 kg, a bovina 35 kg e a suína 15kg.
Regina Valle, que é zootecnista e diretora técnica da Associação Brasileira dos Criadores de Dorper e White Dorper (ABCDorper), uma das raças de ovinos de corte, afirma que o preço deste tipo de carne é um motivo e “também pelas pessoas desconhecerem o preparo do alimento”, conclui.
Esse não é o único fator que explica o fenômeno. O analista da Área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Caprinos e Ovinos Zenildo Holanda pondera que “a informalidade é, possivelmente, o fator que mais enfraquece as relações de produção e comercialização na ovinocultura, pois deixa a cadeia vulnerável em aspectos relacionados à sua competitividade e viabilidade econômica diante dos grandes mercados, como o Uruguai e a Argentina”.
Espedito Cezário Martins, que é pesquisador da área de Socioeconomia da Embrapa Caprinos e Ovinos, afirma que “diante das fragilidades de organização da cadeia produtiva de ovinos, torna-se mais difícil a disponibilização de um volume de carne ovina a preços competitivos e com qualidade nos mercados. Se o cenário fosse diferente, poderia se investir mais em propaganda e marketing para o setor”.
Ele ressalta, porém, que o consumo da carne de ovinos tem crescido no país. “Embora o consumo médio seja de 400 gramas, existem regiões, como o Nordeste e o Sul, em que o consumo é mais difundido, fato que aumenta substancialmente o consumo efetivo desta proteína. Mas a informalidade da cadeia ainda é muito grande, o que dificulta a obtenção de dados que realmente reflitam a realidade da cadeia”, explicou.
Para o pesquisador Holanda, é preciso investir em tecnologia de produção e estimular o desenvolvimento de uma rede de comercialização que facilite o acesso dos consumidores a produtos de qualidade. “A oferta cria a sua própria demanda, portanto, se a carne ovina ficar mais disponível para o consumidor, ou seja, se ela estiver mais acessível aos olhos dos consumidores, certamente os consumidores vão se dispor a comprar mais carne e, consequentemente, o consumo vai aumentar”, pontuou.
DISTRIBUIÇÃO
Ainda no século XVI, os ovinos foram introduzidos no Brasil pelos colonizadores. A partir da segunda metade do século XIX e, ao longo do século XX, raças africanas chegaram ao país, principalmente na Bahia.
“Pressões ambientais e cruzamentos desordenados induziram o surgimento de animais com pouca ou nenhuma lã, que desenvolveram grande adaptação ao ambiente do semiárido. Esses fenômenos contribuíram para a expansão da ovinocultura em todo o Nordeste e na Bahia, que por suas dimensões e pela intensidade da ocupação possibilitou a expansão da ovinocultura como alternativa de fonte de proteína às populações rurais”, disse.
Segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que foi realizada no ano de 2022, o rebanho de ovinos no país é de 21.514.274 cabeças, com 69,9% localizadas no Nordeste, 19,77% no Sul, 4,75% no Centro- Oeste, 2,8% no Norte e 2,78% no Sudeste. O rebanho baiano, que é o maior do país, é de 4.660.494 cabeças, representando 30,99% do rebanho nordestino e 21,66% do rebanho brasileiro.
Regina conclui que “a ovinocultura é uma atividade que permite o consórcio com inúmeras outras atividades do agronegócio, com alto valor agregado e com um mercado consumidor ainda em crescimento. Como tantas e outras atividades, a ovinocultura tem seus altos e baixos, mas continua se expandido e profissionalizando”.