A Superintendência de Agricultura Federal de Mato Grosso do Sul (SFA/MS) e a Embrapa Agropecuária Oeste, juntamente com o apoio da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) e da Prefeitura Municipal dos municípios de Jaraguari e Corguinho, estão desenvolvendo projeto, desde maio de 2023, em dois quilombos do estado: Furnas do Dionísio (Jaraguari/MS) e Furnas da Boa Sorte (Corguinho/MS). As culturas que são plantadas nos quilombos são cana-de-açúcar, mandioca, milho, além da horticultura.
Celso Martins, fiscal federal agropecuário, da Superintendência Federal da Agricultura de Mato Grosso do Sul (SFA/MS), explica que essa iniciativa partiu de um trabalho de rotina da SFA/MS, que conduz um trabalho de fortalecimento de cadeia produtiva de pequeno agricultor e de comunidades, como o caso dessas duas comunidades quilombolas. “Foi identificada fragilidade tecnológica muito grande na produção de mandioca, cana-de-açúcar, inclusive na questão de variedades, que talvez seja a base principal para você começar a trabalhar tecnologia, então é uma demanda dessas comunidades”, diz Martins.
Ele também enfatiza que, a partir da demanda das comunidades, promoveu-se uma articulação entre a Superintendência e a Embrapa, identificando na Embrapa sua expertise e o conhecimento nessas duas áreas. “Destaco também essa articulação, essa parceria entre a comunidade, o Ministério da Agricultura e Pecuária, a Embrapa e algumas pessoas que participam junto do projeto, envolvendo até outras instituições como Agraer, vai ser muito contributivo. Vamos ter sucesso”, garante Martins.
Segundo o pesquisador Auro Akio Otsubo, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste, o objetivo do projeto é “proporcionar às comunidades quilombolas, de forma participativa, acesso às informações e tecnologias provenientes da Embrapa, que permitam aumentar o rendimento de produção e do processamento de produtos que a comunidade comercializa, como derivados de cana (rapadura, melado e açúcar mascavo) e de mandioca (farinha e mandioca fresca), de modo a aumentar a renda dos produtores”.
A Embrapa Agropecuária Oeste plantou, nas áreas, cultivares de mandioca provenientes do programa de melhoramento genético da Embrapa Cerrados. Aquelas destinadas para o consumo “in natura” ou de mesa são BRS 399, BRS 429 e BRS 398 e as cultivares de mandioca para indústria são BRS CS01, BRS 317, BRS 418, BRS 419 e BRS 420. Também levaram cultivares de BRS Capiaçu (forrageira) para melhorar a disponibilidade de alimento para o gado leiteiro. Os recursos são provenientes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O pesquisador afirma que o potencial produtivo dos materiais de mandioca estudados “são evidentes quanto a possíveis ganhos”, tanto na produção final quanto no manejo, como resistência ou tolerância às doenças e pragas, maior cobertura do solo, diminuindo a necessidade de capinas, que devam ser catalogadas no final, uma vez que possam diminuir custos. Na cana, a identificação de melhor época de utilização dos diferentes materiais, deve resultar em maior produtividade no processamento industrial dos produtos.
Em média, a equipe de pesquisadores e de transferência de tecnologias deve ir aos quilombos, pelo menos, uma vez ao mês. “Sem falar que os agentes da extensão rural estarão mais diretamente presentes”, conta Otsubo. Estão previstos treinamentos específicos e mais complexos como o curso de manejo integrado de pragas de mandioca e de processamento de rapadura com outros produtos, o Jaracatiá, por exemplo.
Nilson Abadio Martins, quilombola da Furnas do Dionísio, é tesoureiro da Associação de Pequenos Produtores Rurais, que existe desde 1990. Ele conta que a comunidade quilombola de Furnas do Dionísio, em Jaraguari, MS, existe desde os meados dos anos 1890. Possui aproximadamente 110 famílias. Comercializam derivados da cana-de-açúcar, como melaço, rapadura e açúcar mascavo; farinha de mandioca; mandioca; milho; hortaliças, banana, poncã, limão, manga, doces de fruta, rapadura de leite, banha de porco, laranja, entre outros.
Há dez meses, montaram uma Feira de Produtos na sede da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Furnas do Dionísio, ao lado da Escola do Quilombo, onde muitas pessoas de cidades como Campo Grande (Capital de MS) vão fazer compras. É realizada um domingo por mês, das 8h às 18h.
Quanto ao projeto, ele diz que a “expectativa é que os parceiros ensinem as técnicas para melhorarem a produção e, com isso, ajudar no desenvolvimento do plantio e das comunidades”, espera Abadio.