O futuro do desenvolvimento da pesquisa agropecuária com fibras naturais foi tema da reunião da Câmara Setorial de Fibras Naturais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O encontro virtual, ocorrido na última semana, comemorou os 10 anos da Câmara Setorial e recebeu o vice-presidente da República e presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, Hamilton Mourão, além de representantes de diversas entidades do setor.
O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Wagner Lucena, apresentou alguns dos resultados de pesquisa que a instituição vem desenvolvendo com as fibras naturais, entre elas o bambu, o sisal, a juta, a malva e a piaçava.
De acordo com o especialista. os diversos encontros realizados com o setor produtivo, nos últimos anos, resultaram na elaboração de projetos para o desenvolvimento e o aprimoramento do setor. Um deles é o Manejo Sustentável de Fibras de Piaçava que vem sendo realizado pela Embrapa e que tem como um de seus objetivos a geração de renda para comunidades extrativistas, englobando áreas da Amazônia e do sul da Bahia.
Ao apresentar o trabalho, Lucena destacou a importância de o setor e os integrantes da cadeia produtiva acompanharem o projeto mais de perto e se colocou à disposição para fornecer informações detalhadas sobre o andamento das pesquisas.
Com relação aos estudos da Embrapa com o sisal e o bambu, Lucena explicou que o desafio é ampliar a estratégia de captação de recursos, assim como para as pesquisas com a juta e a malva. Uma das alternativas é a Embrapa oferecer a infraestrutura de seus laboratórios e o setor ofertar recursos para o desenvolvimento dos trabalhos.
Presente ao evento virtual, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) afirmou que são necessários investimentos e a aplicação de políticas públicas para que a atividade se torne uma alternativa de desenvolvimento da região amazônica.
“A cadeia produtiva das fibras naturais na Amazônia representa um segmento que envolve e ocupa diretamente um grande contingente de pessoas e suas famílias. Porém, vem sofrendo com redução na produção em decorrência de fatores como a carência de novas tecnologias e a necessidade de maior intensidade de políticas públicas de apoio e fomento à atividade”, afirmou Muni Lourenço, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (Faea) e da Comissão Nacional de Desenvolvimento da Região Norte da CNA.
Lourenço falou sobre o potencial econômico e social da cadeia produtiva de fibras naturais na Amazônia. Segundo ele, a indústria que processa as fibras está importando fibra do sudeste asiático para atender a demanda. “Estamos em uma situação de dependência parcial da compra de fibra natural de outros países, que poderíamos estar produzindo, gerando emprego, renda e oportunidades para nossa gente”.
O vice-presidente Hamilton Mourão reiterou a importância das fibras naturais para a pauta do desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia. Ele destacou a importância de reuniões como essa para manter um diálogo transparente e construtivo, que forneça ao Conselho Nacional da Amazônia informações sobre os problemas que afligem o setor.
“Nós podemos estabelecer alguma forma de auxiliar o setor por meio de políticas públicas nos diferentes ministérios e também em parcerias com o setor privado, o que é extremamente importante nessa ala. O Conselho não tem só foco no combate ao desmatamento ilegal e queimadas, nossa missão é muito mais abrangente. Além da preservação, temos a questão da proteção da Amazônia, mas principalmente o desenvolvimento da região”, disse.
Mourão afirmou que, no período em que está à frente do Conselho, tem estruturado uma agenda para criar ciclos de crescimento para a Amazônia, como intensificar as ações de regularização fundiária, proteção ambiental e melhoria da infraestrutura e logística.
Ao encerrar sua fala, o vice-presidente da República salientou a importância da cooperação entre governo, setor privado e academia. “Não são ações simples, pois os desafios são grandes na Amazônia. Há um caminho a percorrer, mas temos espaço para crescer e, sendo muito bem ocupado, esse espaço terá ampla aceitação no mundo, onde a bioeconomia avança cada vez mais. Consequentemente, os nossos produtores e toda a sua cadeia de valor serão beneficiados”, afirmou.
O presidente da Câmara Setorial de Fibras Naturais, Wilson Andrade, aproveitou o momento para fazer um balanço do setor no contexto desta nova era do agro nacional, que, até então, vinha perdendo forças para o mercado sintético. Contudo, com as novas práticas de descarbonização, ele acredita que o produto brasileiro poderá demonstrar sua funcionalidade ao mercado.