No Dia do Trabalhador, as mulheres de Mato Grosso do Sul protagonizam uma história de resistência e superação, mas ainda enfrentam barreiras profundas no mercado de trabalho. Dados do IBGE (2023) mostram que, embora representem 51,7% da população do estado, as mulheres sul-mato-grossenses recebem, em média, 28% menos que os homens para exercer as mesmas funções. A taxa de desocupação feminina (14,5%) também é superior à masculina (9,8%), refletindo desafios históricos de inserção laboral. Mesmo assim, elas são maioria (57%) nas graduações das universidades públicas do estado, como a UFMS e a UEMS, indicando potencial subutilizado.
A dupla jornada persiste como um obstáculo invisível. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua 2023), 78% das mulheres empregadas em MS dedicam mais de 20 horas semanais a afazeres domésticos, contra apenas 36% dos homens. Essa sobrecarga limita oportunidades de ascensão profissional: apenas 12% dos cargos de liderança em empresas do estado são ocupados por mulheres, conforme mapeamento da Federação das Indústrias de MS (Fiems). Em setores como agropecuária e construção civil – pilares da economia local –, a presença feminina não chega a 15% da força de trabalho, segundo o Observatório do Trabalho de MS.
A violência econômica e o assédio no trabalho são realidades alarmantes. O MPT registrou 62 denúncias de assédio sexual ou moral contra mulheres no ambiente laboral em MS apenas em 2023, número subnotificado devido ao medo de represálias. O cenário é ainda pior para mulheres negras e indígenas: enquanto a renda média mensal de mulheres brancas no estado é de R2.312∗∗,aspretasepardasganham∗∗R2.312∗∗,aspretasepardasganham∗∗R 1.587, e as indígenas, R$ 1.210 (Dieese/2023). No campo, 43% das trabalhadoras rurais não têm acesso à previdência social, conforme a CPT.
Apesar dos desafios, iniciativas buscam transformar esse quadro. Programas como "Elas por Elas" (Governo de MS) e "Trampo Justo" (MPT) capacitam milhares de mulheres anualmente em áreas como tecnologia e gestão. O empreendedorismo feminino também cresce: 34% dos MEIs no estado são liderados por mulheres, especialmente em comércio e serviços (Sebrae/2024). Cooperativas como a "Costurando Sonhos" (Campo Grande) e a "Guató" (Corumbá) mostram como a organização coletiva gera renda e autonomia.
Neste 1º de Maio, a luta das trabalhadoras de MS exige políticas urgentes: equiparação salarial, licença-maternidade estendida, creches públicas e combate ao assédio. Se o estado é o 5º no ranking nacional de feminicídios (Anuário Brasileiro de Segurança Pública/2023), a valorização do trabalho feminino é um antídoto para a violência. Como lembra a sindicalista rural Maria da Silva, de Dourados: "Nossa enxada planta comida, mas também semeia direitos."