A Expoagro 2025 consolidou-se como um dos principais eventos do agronegócio no interior de Mato Grosso do Sul, movimentando grandes negócios e atraindo um público expressivo durante seus dez dias de realização. Com leilões de gado de alto valor, julgamentos de animais de elite, rodeios emocionantes e shows de grande porte, a feira reafirmou seu peso no cenário nacional do setor. No entanto, por trás do discurso de sucesso, escondem-se contradições que precisam ser discutidas.
Enquanto grandes pecuaristas e empresários fechavam negócios milionários nos leilões, o acesso à feira tornou-se um privilégio para poucos. Os ingressos para os shows musicais ultrapassaram R$ 200,00, valor incompatível com a realidade da maioria dos trabalhadores rurais e pequenos produtores da região. Se a Expoagro se propõe a ser um evento para o campo, por que justamente aqueles que sustentam o dia a dia da agricultura familiar foram excluídos?
Outro ponto que chamou atenção foi a explícita campanha eleitoral do presidente do Sindicato Rural, Gino José Ferreira, espalhada em luminosos e materiais promocionais pela feira. Enquanto o evento recebeu verbas públicas e apoio institucional, transformou-se em palanque para um candidato a deputado estadual, desvirtuando seu caráter técnico e coletivo.
A contradição se aprofunda quando se observa que a Expoagro contou com apoio financeiro do poder público – Prefeitura, Governo do Estado e entidades como o Sebrae –, mas não garantiu mecanismos de democratização do acesso. Se é uma feira que se orgulha de movimentar a economia local, por que não reservou espaços a preços populares ou políticas de inclusão para agricultores familiares e comunidades tradicionais?
Em 2026, a Expoagro completará 60 anos. Será a oportunidade para repensar seu modelo: uma feira que realmente una o agronegócio forte com a base produtiva, que equilibre o empresariado do campo com os pequenos, e que priorize o interesse coletivo em vez de campanhas pessoais. O sucesso de um evento não se mede apenas pelo volume de negócios, mas por seu legado para toda a cadeia produtiva – e, principalmente, para a sociedade que o financia.