A Embrapa Clima Temperado (RS) desenvolveu uma cultivar nacional de morango que se destaca pela precocidade do início da produção dos frutos, o que permite intervalo menor entre plantio e início da colheita, aumentando a janela de produção por até sete meses (de junho a dezembro) e estendendo a oferta de frutas de qualidade. Para o produtor, isso maximiza o retorno econômico pela obtenção de preços mais elevados em período anterior às principais cultivares disponíveis no mercado. O desenvolvimento da cultivar contou com a participação da Embrapa Hortaliças (DF), Embrapa Meio Ambiente (SP) e Embrapa Uva e Vinho (RS).
A Embrapa abrirá edital nos próximos dias e laboratórios e viveiristas interessados em multiplicar a nova variedade de morango poderão aderir à chamada. A cultivar BRS DC25 (Fênix) tem previsão de lançamento para setembro.
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O material se destaca pelo equilíbrio entre açúcar e acidez, o que resulta em frutas de sabor mais doce, atendendo à preferência nacional. Os frutos apresentam boa firmeza, o que garante maior resistência ao transporte e durabilidade pós-colheita, com mais tempo de prateleira.
A Fênix é recomendada para as regiões Sul e Sudeste do Brasil, sendo adequada aos sistemas de produção convencional e orgânico. A variedade tende a manter boa produtividade de frutas grandes, com estabilidade de tamanho ao longo da safra. O potencial produtivo pode chegar a 1,2 quilo por planta, dependendo das condições de cultivo.
As frutas são grandes, com peso médio de 23 gramas, e de cor vermelha intensa, com predominância do formato cônico, típico do morango. A nova variedade é destinada ao consumo in natura, mas também pode ser utilizada na indústria de frutas congeladas.
Mais autonomia ao setor produtivo
A disponibilização da BRS DC25 (Fênix) atende a uma demanda do setor produtivo, o qual reivindicava autonomia no acesso a novas cultivares. Os materiais atualmente utilizados pelos produtores são, majoritariamente (95%), de genética norte-americana. Parte das mudas é produzida no Chile e Argentina (30%), principalmente, o que aumenta os custos de produção e o valor da comercialização de morangos no Brasil. A outra parte é produzida por viveiristas nacionais, também com cultivares majoritariamente norte-americanas (70%).
O desenvolvimento de variedades brasileiras, aliado a um sistema de produção de mudas adequado, diminui essa dependência de cultivares estrangeiras e dá mais independência de escolha para o produtor. A ampliação da nacionalização da produção de mudas pode impactar na redução dos custos com aquisição de mudas e garantir que as divisas geradas pelo setor, como os royalties das variedades e o lucro da produção de mudas, fiquem no País.
Avaliações nas principais regiões produtoras
Para validação dos materiais mais promissores, seleções são anualmente testadas em diferentes sistemas produtivos utilizados no País. As avaliações da BRS DC25 (Fênix) foram realizadas em 18 Unidades de Observação (UO), em produtores parceiros em municípios dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Distrito Federal. O objetivo foi avaliar o comportamento e a adaptação da cultivar a diferentes regiões do Brasil.
O produtor de Pelotas (RS) Diego Bonemann, que cultiva morangos há mais de 40 anos, é um dos parceiros da Embrapa e já deu suporte na avaliação de mais de dez seleções avançadas do programa de melhoramento nos últimos cinco anos. Ele, inclusive, avaliou a cultivar BRS DC25 (Fênix) e aprovou. “Ela é bem firme. O sabor é muito bom também”, afirmou.
Retomada do desenvolvimento de novas variedades de morangueiro
O pesquisador da Embrapa responsável pelo trabalho de melhoramento, Sandro Bonow, explica que as novas variedades de morango a serem lançadas a partir deste ano devem ser batizadas com nomes de estrelas e constelações. A cultivar BRS DC25 (Fênix) foi nomeada a partir de uma constelação do Hemisfério Sul, mas também em alusão à ave mitológica que teria renascido das próprias cinzas.
O nome faz referência à retomada e renascimento do Programa de Melhoramento Genético de Morangueiro da Embrapa Clima Temperado. As primeiras pesquisas para desenvolvimento de novas variedades pela Embrapa tiveram início na década de 1950, na então Estação Experimental de Pelotas, atual Estação Experimental Cascata (EEC), com auge, até então, entre as décadas de 1960 e 1980.
Ao todo, a Embrapa havia lançado até o momento oito cultivares de morangueiro, além de recomendar quatro cultivares introduzidas de outros países para cultivo. Também publicou centenas de recomendações, ferramentas de apoio ao setor e avanços do conhecimento sobre a cultura. A maioria das variedades entregues na primeira fase do programa era voltada à indústria e apresentava maior acidez, o que vai de encontro ao interesse nacional atual quanto ao consumo de fruta fresca. Também estão, atualmente, desatualizadas para o setor produtivo.
Em 2010, um novo ciclo de trabalho teve início para retomada das pesquisas encerradas na década de 1990. O objetivo foi reverter o monopólio, no mercado nacional, das variedades desenvolvidas no exterior, dando mais autonomia à cultura no Brasil. Mas o processo de melhoramento leva tempo. Para se obter uma nova variedade são necessários, no mínimo, sete anos entre os primeiros cruzamentos e o lançamento.
Atualmente, o objetivo do programa de melhoramento é disponibilizar ao setor produtivo, ao longo do tempo, um portfólio de cultivares adaptadas às condições climáticas e de cultivo das principais regiões produtoras do país, com equilíbrio em características como produtividade, comportamento em relação a pragas e doenças, qualidade da fruta, durabilidade no pós-colheita e, principalmente, sabor.
“Depois de 23 anos, a Embrapa volta ao mercado de cultivares de morangueiro, que é uma demanda muito forte do setor produtivo nacional, envolvendo desde laboratórios produtores de matrizes, viveiristas e produtores da fruta, com ênfase final no consumidor, fazendo com que ele tenha frutas de boa qualidade e de bom sabor para consumo”, completa Sandro.