Neste dia 5 de dezembro é celebrado o Dia Mundial do Solo. De acordo com Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a atividade agrícola ocupa, em média, 5 bilhões de hectares. Isso equivale a 38% da área terrestre do planeta.
Com toda essa área ocupada pela agricultura, existe um potencial enorme para que a atividade tenha um protagonismo na preservação ambiental. Por essa razão, a FAO instituiu o dia 5 de dezembro como o Dia Mundial do Solo.
Para 2021, o mote da data comemorativa é: Pare a salinização do solo, aumente a produtividade do solo.
A salinização é o processo de aumento da concentração de sais solúveis presentes no solo, ao ponto de prejudicar a produtividade e o rendimento das culturas agrícolas. Além disso, a salinização atinge também o meio ambiente, prejudicando a vegetação nativa.
Entretanto, a salinização prejudica o meio ambiente de outra forma: reduzindo a capacidade do solo de capturar carbono, como destaca a Chloride Free, organização internacional sem fins lucrativos que tem como propósito proteger a biodiversidade do solo.
Os chamados gases do efeito estufa são gases que se acumulam na atmosfera da Terra e ampliam o que é conhecido como efeito estufa. Esse fenômeno faz com que o planeta passe a absorver e reter uma parcela maior da radiação solar.
Como consequência, a temperatura global se eleva, trazendo perturbações e instabilidades para o clima da Terra.
Entretanto, o solo é uma grande potência para reduzir esses fenômenos prejudiciais. Isso porque ele pode ser um sumidouro de gases do efeito estufa, especialmente aqueles que têm carbono em sua composição.
Essa capacidade está ligada aos microrganismos benéficos do solo. De acordo com David Johnson e outros pesquisadores, no artigo Development of soil microbial communities for promoting sustainability in agriculture and a global carbon fix, solos ricos em biodiversidade conseguem capturar uma quantidade de carbono até 50 vezes maior do que aqueles com uma baixa biodiversidade.
Pensando na área ocupada pela agricultura, isso significa que, se os 5 bilhões de hectares ocupados pela atividade agrícola forem ricos em biodiversidade, eles conseguiriam capturar cerca de 50 bilhões de toneladas de carbono por ano.
Isso traria um impacto muito positivo na diminuição dos efeitos causados pela emissão antrópicas de gases do efeito estufa.
Esses efeitos benéficos da biodiversidade do solo são promovidos por diversos organismos e microrganismos, como bactérias e fungos, que são os principais atores na captura de carbono. E até mesmo as minhocas, formigas e cupins. estão envolvidos nesse processo.
É o que destacam os pesquisadores Yong-Guan Zhu e R. Michael Miller no artigo Carbon cycling by arbuscular mycorrhizal fungi in soil-plant systems. Nesse trabalho, eles discutem a ideia de que as relações entre fungos e as raízes das plantas, chamadas de Micorrizas Arbusculares, contribuem para uma ciclagem mais rápida do carbono no solo.
Entretanto, a salinização dos solos ameaça essas comunidades, já que solos com elevados índices de salinidade são letais para os microrganismos benéficos que vivem neles.
E uma das causas da salinização é o uso de fertilizantes com excesso de cloro em sua composição.
O cloro é um elemento que é considerado um micronutriente, ou seja, ele é requerido pelas plantas para o seu processo de desenvolvimento. Entretanto, as quantidades requeridas pelas plantas normalmente já estão presentes no próprio solo.
Todavia, alguns fertilizantes convencionais utilizados na agricultura, como é o caso do Cloreto de Potássio (KCl) têm em sua composição altos níveis de cloro. No caso do KCl, ele é composto por aproximadamente 47% de cloro.
Isso faz com que o uso desses fertilizantes gere um excesso de cloro no solo. E isso é prejudicial para os microrganismos do solo.
Para se ter uma ideia, pense no poder biocida de um litro de água sanitária. De acordo com a pesquisadora Heide Hermary, no artigo Effects of some synthetic fertilizers on the soil ecosystem, a aplicação 200kg KCl é equivalente a despejar 1600 litros de água sanitária no solo.
Assim, para que o agronegócio possa exercer o seu potencial de protagonista na garantia do futuro do planeta, é preciso que se invista em insumos e fertilizantes que não somente nutram adequadamente as plantas, mas que favoreçam as comunidades microbianas e a biodiversidade do solo.
Existem diversas iniciativas que buscam enfrentar as mudanças climáticas a partir de práticas agrícolas sustentáveis. A Chloride Free trabalha para que a atividade agrícola mundial se livre do cloro até 2050, promovendo, assim, a biodiversidade do solo. A engenheira ambiental e cofundadora da Chloride Free Foundation, Carol Viana, destaca a importância dessa mudança na agricultura:
“A biodiversidade do solo pode nos ajudar a reverter a crise climática através da captura de carbono. Mas, para que isso aconteça, precisamos de uma agricultura sustentável e livre de cloro, uma vez que seu uso excessivo pode aumentar a salinidade do solo e agir como biocida, prejudicando a biodiversidade do solo e a captura de carbono”, destaca Carol.