Em uma ação simbólica no Dia dos Namorados, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande cumpriu seis mandados de prisão contra homens acusados de violência doméstica. Batizada de Operação Cilada — em referência à música do Grupo Molejo que alerta "não era amor, era cilada" —, a iniciativa buscou destacar a violência que muitas vezes se disfarça de afeto.
A maioria dos presos tem entre 35 e 40 anos, e, além das prisões, foram instaladas 60 tornozeleiras eletrônicas em agressores monitorados. Os mandados, expedidos há apenas duas semanas, foram solicitados pelas próprias delegadas da Deam, que reforçam a importância da denúncia para interromper o ciclo de violência.
"Zelo disfarçado de carinho": O perigo da violência psicológica
A delegada Analu Ferraz explicou que muitos casos começam com controle mascarado de "proteção". "A violência psicológica é hoje o principal antecedente do feminicídio. São frases como ‘eu faço isso porque te amo’, ‘é para o seu bem’. Tudo isso é o homem tentando dominar a mente daquela mulher", alertou.
Já a delegada Fernanda Piovano destacou a coragem das vítimas que rompem o silêncio: "São essas denúncias que permitem nosso trabalho. Muitas mulheres só procuram ajuda quando percebem que estão em perigo, e outras, infelizmente, ainda hesitam — e é aí que os crimes mais graves acontecem".
Agressores sem perfil único: Violência atravessa classes sociais
Questionada sobre o perfil dos criminosos, a delegada Rafaela Lobato foi enfática: "Não há um único tipo de agressor, assim como as vítimas também vêm de diferentes realidades. Temos desde mulheres que não acreditam no sistema até aquelas que conseguem sair do ciclo a tempo. O problema é que, quando a vítima não denuncia, muitas vezes só chegamos ao caso quando já é tarde".
Medidas protetivas: Um freio, mas não uma garantia
A Deam revelou que todas as vítimas dos presos nesta quinta já haviam registrado boletim de ocorrência e que a maioria possuía medida protetiva. Mensalmente, a delegacia registra cerca de 700 novos casos de violência doméstica — o mesmo número de medidas protetivas solicitadas.
"O volume é absurdo: já ultrapassamos 15 mil medidas deferidas. Elas funcionam como um freio, mas não são infalíveis. O papel sozinho não para um agressor determinado. Por isso, a prevenção e a conscientização são essenciais", finalizou uma das delegadas.
A operação serviu como um alerta: o amor não controla, não agride, não ameaça. E, para quem vive uma relação abusiva, a mensagem é clara: denuncie. Não espere que a cilada se feche.
🔴 Onde buscar ajuda?
Disque 180 (Central de Atendimento à Mulher)
Delegacias da Mulher
Polícia Militar (190) em casos de emergência