Um estudo da Embrapa trouxe uma grande inovação para a comercialização de ovinos no estado de Mato Grosso do Sul. Trata-se de um modelo chamado de “Propriedade de Descanso de Ovinos para Abate (PDOA)”, que recebe animais de diversas propriedades do estado e se responsabiliza pelo seu embarque para frigoríficos. Graças a esse novo sistema, em 2019, foram movimentados mais de 1,5 mil animais, maior quantidade dos últimos cinco anos.
A iniciativa nasceu com o propósito de solucionar um dos maiores entraves à ovinocultura na região, que é justamente a estrutura para comercialização dos animais. Mesmo sendo o detentor do 9º maior rebanho de ovinos do País, com quase oito mil propriedades, o Mato Grosso do Sul ainda conta com poucos estabelecimentos rurais com capacidade de produzir em larga escala para atender ao mercado consumidor.
Os criadores do estado que já fazem uso do PDOA, sabem muito bem a contribuição positiva que isso trouxe para a atividade.
“O maior benefício para o produtor é a facilidade de comercializar com compradores de grandes lotes um número menor de cabeças, já que vários se reúnem para atender a um pedido maior. Os compradores também são beneficiados, especialmente com a redução nos custos de frete,” diz Sônia Beretta, produtora de Sidrolândia (MS).
Na PDOA, os produtores rurais podem encaminhar seus animais, mesmo em quantidades menores, para que lá componham lotes de maior quantidade, o que é vantajoso para compradores. A negociação se dá pelo volume total de ovinos embarcados, fazendo com que cada criador receba, individualmente por seus animais, o mesmo preço dos demais participantes.
“É difícil para um pequeno criador ter uma quantidade dessas para vender de uma só vez. Ele tem que passar por diversas propriedades, o que pode encarecer o frete e dificultar o trabalho. Com a criação da PDOA, o comprador tem acesso a uma carga grande de uma só vez porque os animais estão reunidos. Isso é a maior vantagem: viabilizar a ovinocultura para propriedades de todo tamanho”, ressalta.
Para Fernando Reis, pesquisador do Núcleo Centro-Oeste da Embrapa Caprinos e Ovinos, esse modelo pode superar obstáculos como a pulverização dos rebanhos no estado, que dificulta a formação de lotes para transporte ao frigorífico, o que costuma impulsionar um abate informal, muitas vezes sem controle sanitário, ou a venda direta para intermediários, que nem sempre é vantajosa economicamente para o produtor rural.
“Pode-se destacar que o método se tornou uma ferramenta que tem possibilitado não somente a viabilização comercial dos animais criados por pequenos produtores, como tem conscientizado para melhoria da produção, padronização e oferta de acordo com as exigências do mercado. Ela também permite uma negociação mais justa, mesmo daqueles que não possuem muitos animais para venda direta”, frisa.
Além de facilitar a comercialização em escala maior e mais profissionalizada, o modelo da PDOA também apresenta, segundo os produtores rurais participantes, benefícios para a qualidade do produto final e para o bem-estar animal. Um desses benefícios é a melhor padronização dos lotes de animais a serem entregues aos frigoríficos.
“Ainda é difícil produzir ovinos de maneira uniforme em termos de precocidade, ganho de peso e no acabamento. Mas essa união de produtores ameniza essa dificuldade e faz com que possamos entregar lotes cada vez mais uniformes e padronizados. Com isso ganha o produtor, a indústria e o consumidor”, afirma a produtora rural Sônia.
O médico veterinário e ovinocultor Osvaldo Rodrigues, de Campo Grande (MS), que costuma encaminhar animais três vezes por ano para comercialização via PDOA, também vê vantagens para o bem-estar dos animais.
“Se o veículo passa maior tempo para reunir um lote de animais, existe o risco daqueles já embarcados de sofrerem com sede ou fome. Temos compradores até mesmo de estados vizinhos, como São Paulo, e essa formação de lotes facilita”, afirma.
Com o modelo criado, é possível ter funcionalidades, como a emissão conjunta de Guia de Trânsito Animal (GTA) e Nota Fiscal, de modo a formalizar a comercialização de cordeiros em escala, para posterior destinação ao abate em frigoríficos inspecionados.
Ampliação de Modelo
Segundo a médica veterinária Suzana Ortega, coordenadora do programa de caprinos e ovinos da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), é possível que o modelo seja replicado em outras propriedades semelhantes no Mato Grosso do Sul e em outros estados brasileiros, desde que cumpram requisitos sanitários básicos.
Entre eles, uma estrutura adequada para embarque e desembarque dos animais, divisões para separação de lotes, uma área de sequestro para animais com problemas sanitários e um manejo adequado de resíduos dos animais.
A ideia de ampliação do modelo é compartilhada pelo pesquisador Fernando Reis, que acredita no interesse em favorecer não somente a venda formal, mas também uma produção que atenda às condições sanitárias e a rastreabilidade do produto.
“Isso deverá ocorrer, principalmente como iniciativa dos órgãos de Defesa Sanitária Animal nos estados. Geralmente, os rebanhos de ovinos e caprinos são pouco monitorados e já vem de longa data o desejo do Ministério em implantar o Programa Nacional de Sanidade dos Caprinos e Ovinos”, diz.