Muito foi dito após o início dos conflitos entre a Rússia e Ucrânia, especialmente que as sanções impostas à Rússia restringiriam a oferta global de fertilizantes. Esta possibilidade fez com que os preços dos adubos disparassem no mercado internacional. Desta forma, quem quisesse comprar fertilizantes durante o segundo trimestre do ano pagaria um preço salgado. E o mercado brasileiro foi às compras.
Até o fim do primeiro semestre do ano, o Brasil havia importado cerca de 19,2 milhões de toneladas de fertilizantes, 20% a mais do que no mesmo período do ano anterior. Contudo, uma vez já garantido boa parte dos volumes necessários para a safra, o ritmo de importação se atenuou e ao final de agosto, a diferença das importações em relação ao ano anterior diminuiu e 2022 está apenas 10% acima do ano passado.
Melhor pagar mais caro do que não ter o fertilizante? O cloreto de potássio (KCl), já vinha a alguns meses sendo negociado a USD 795/t, um patamar bastante elevado em relação ao seu histórico. Após o início dos conflitos, o preço do KCl chegou a ultrapassar os USD 1.200/t. Ou seja: um aumento de mais de 50% em apenas algumas semanas. A ureia foi outro fertilizante que apresentou uma alta bastante expressiva nesse período, passando de USD 550/t para USD 985/t, uma alta de quase 80%.
A necessidade de garantir o adubo para a safra fez com que muitos produtores fizessem a aquisição com um custo bastante elevado, mas ainda assim, com uma relação de troca aceitável, dado que a cotação da soja era bastante atrativa no período. Porém, nem todos os produtores pensaram dessa forma. Quando olhamos as entregas ao consumidor final ainda observamos atrasos.
Até o final de julho deste ano, as entregas de fertilizantes reportadas pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) apontaram um atraso de 3% em relação ao ano anterior, especialmente nos estados que plantam a soja mais tarde. Este fato indica que sim, temos uma possibilidade de redução no consumo total de fertilizantes este ano no Brasil.
Porém, com uma estimativa de área plantada maior do que no ano passado, ainda é cedo para apontar uma redução muito forte no consumo total deste ano. A combinação de aumento de área plantada e forte queda no volume total consumido implicaria em uma expressiva redução por hectare, algo que, dada as elevadas cotações das commodities, pode ser negativo para as margens dos produtores. As informações são do Rabobanl Agroinfo de setembro de 2022.