A temporada de exportação de milho do Brasil está começando neste mês, com cerca de 40 navios programados para embarques nos portos, mas o número não chega à metade do total agendado para o mesmo período do ano passado, sob o impacto de uma forte quebra de safra, de acordo com integrantes do mercado e dados de agência marítima.
O Brasil exportou em 2020 cerca de 33 milhões de toneladas, e as projeções eram de uma certa estabilidade antes dos problemas climáticos, como seca e geada. Mas agora fala-se em 20 milhões de toneladas em 2021, com muitos participantes que embarcariam para o exterior direcionando vendas ao mercado interno, após operações de "washout" serem registradas.
"Teve bastante coisa (de washout), muita gente fez washout para venda no mercado interno", afirmou o presidente-executivo e fundador da trading AgriBrasil, Frederico Humberg.
Ele avaliou que, depois do impacto da seca e da geada, a safra de milho do Brasil será reduzida a 87 milhões de toneladas, com apenas 20 milhões indo para exportação --no ano passado, a colheita superou 100 milhões de toneladas e poderia ter sido muito maior em 2021 não fossem as intempéries.
Em anos de maior oferta, o Brasil aparece como segundo exportador global de milho, atrás apenas dos Estados Unidos, apesar de ter uma forte indústria de carnes que demanda a maior parte da produção local.
"Deve ter alguma coisa (de exportação) entre julho, agosto setembro, e o último trimestre muito calmo de exportação, é o que a gente prevê", acrescentou ele, contando que os preços favoráveis possam ajudar o Brasil a ter uma safra "gigante" no ano que vem.
Um corretor no Paraná, que falou na condição de anonimato, confirmou que houve "muito washout", com as vendas virando para o mercado interno. Nesta operação, o vendedor recompra o produto pagando uma diferença ao comprador original, uma vez que pode fazer melhor negócio com outro agente.
O corretor disse ainda que atualmente o mercado interno está pagando mais do que na exportação, e que os embarques previstos para julho são de contratos acertados anteriormente.
Conforme dados da agência marítima Cargonave, há 39 navios programados para carregar milho nos portos brasileiros em julho, versus 85 previstos para o mesmo mês de 2020.
Apesar de estar mais fraco na comparação anual, a programação mostra efetivamente o início da temporada de exportação de milho do país, considerando que os embarques foram equivalentes a apenas dois navios para exportação em junho.
O line-up para julho significa que o Brasil poderá exportar, considerando a programação até o momento, cerca de 2,5 milhões de toneladas, ante aproximadamente 5 milhões de toneladas efetivamente embarcadas em julho de 2020, conforme dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
Segundo o corretor, os efeitos das geadas no Paraná e Mato Grosso do Sul, Estados onde o milho foi mais atingido, só ficarão mais claros em dez dias, quando a colheita ganhar ritmo mais intenso.
Ele destacou que o "ouro" está no Mato Grosso, em referência à safra de milho do Estado, menos atingida pela seca e que escapou ilesa da geada. Isso se reflete na programação dos navios, que não aponta expectativa de embarque pelo porto paranaense de Paranaguá, enquanto Santos, que recebe o milho de Mato Grosso por ferrovia, tem 14 embarcações programadas. O porto de Barcarena, no Pará, que também exporta o cereal mato-grossense, prevê nove navios, segundo a Cargonave.