O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central informou nesta terça-feira (3) que espera reversão na alta extraordinária dos preços de alguns produtos, que foram, em sua visão, "afetados por redução provisória na oferta em conjunção com um aumento ocasional na demanda".
"Dessa forma, apesar de a pressão inflacionária ter sido mais forte que a esperada, o Comitê mantém o diagnóstico de que esse choque é temporário, mas monitora sua evolução com atenção", acrescentou, por por meio da ata de sua última reunião, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia foi mantida estável no piso histórico de 2% ao ano.
No começo de outubro, o IPCA avançou para 0,94%, a maior taxa para o período em 25 anos. A maior pressão de alta em outubro veio dos alimentos.
O grupo alimentos e bebidas subiu 2,24%, com impacto de 0,45 ponto percentual no índice de outubro. O item que mais pesou individualmente foi carnes (aumento de 4,83% no mês e impacto de 0,13 p.p.). Após a quinta alta consecutiva, os preços da carne acumulam no ano avanço de 11,4%.
O índice também foi puxado pelo aumentos dos preços do óleo de soja (22,34%), do arroz (18,48%), do tomate (14,25%) e do leite longa vida (4,26%).
Segundo o Banco Central, a alta nos preços de alimentos e de bens industriais é consequência da "depreciação persistente do Real" (alta do dólar), da elevação de preço das "commodities" (preços de produtos básicos, com cotação internacional) e, também, dos programas de transferência de renda.
Por outro lado, a instituição também concluiu que a natureza da crise do coronavírus, que gerou redução forte no nível de atividade, "provavelmente implica que pressões desinflacionárias provenientes da redução de demanda podem ter duração maior do que em recessões anteriores".
Taxa de juros
O Copom fixa a taxa básica de juros com base no sistema de metas de inflação. Para 2021, ano no qual o BC passou a mirar as decisões, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%. As decisões sobre juros levam de seis a nove meses para ter impacto pleno na economia.
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic).
Segundo o Banco Central, no cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e dólar partindo de R$ 5,60, as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 3,1% para 2020, 3,1% para 2021 e 3,3% para 2022.
Esse cenário, ainda segundo o Comitê de Política Monetária, supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 2,00% ao ano, e se eleva até 2,75% ao ano em 2021, e para 4,50% ao ano em 2022.
Crescimento da economia
O Banco Central manteve, na ata do Copom, a avaliação de que os dados recentes sugerem uma recuperação desigual da atividade econômica.
"Os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e do investimento. Contudo, várias atividades do setor de serviços, sobretudo aquelas mais diretamente afetadas pelo distanciamento social, permanecem bastante deprimidas", informou.
Os integrantes do Copom avaliaram, ainda, que a "pouca previsibilidade" associada à evolução da pandemia, e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021, aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica.
"O Comitê ponderou que essa imprevisibilidade e os riscos associados à evolução da pandemia podem implicar um cenário doméstico caracterizado por uma retomada ainda mais gradual da economia", concluiu o Banco Central.